sábado, 21 de abril de 2012

Isso é PRB

Crônica extraída do Jornal Pioneiro

BILHETE-BUQUÊ

Vez em quando emergem ilhas de comportamento que não nos deixam esquecer que ainda somos gente. O melhor de tudo é que às vezes essas manifestações se dão onde menos se espera que se dariam.

No lixo, por exemplo.

Leonida Borges Ferreira foi premiada com uma dessas ilhas virtuosas.

Na correria do dia a dia, a gari Leonida foi surpreendida com o bilhete acima, fixado junto a um saco de lixo deixado numa calçada do Planalto-Rio Branco. Aos 28 anos de idade e cinco de Codeca, Leonida jamais vira algo parecido.

– Eu fiquei muito feliz em receber o bilhete e levei-o ao meu supervisor – conta Leonida.

O bilhete foi galgando os andares da Codeca até chegar ao setor de comunicação. Naralis Valim Correa, a sempre antenada assessora de imprensa da Codeca, rapidinho transformou o singelo bilhete num fato jornalístico.

Eis, pois, que o bilhete agora é compartilhado com os leitores do jornal.

Bilhete assim equivale a um buquê de flores.

É um prazer enorme exibi-lo aqui. O bilhete-buquê é a mais perfeita tradução da coluna Cotidiano.

É bacana demais saber que alguém se preocupou com outro alguém sem sequer saber quem seria esse outro alguém.

É o anonimato.

É o bom, velho e sempre desinteressado anonimato pedindo passagem.

E a generosidade, hein?!

O que é a generosidade dessa pessoa que escreveu o bilhete, desejando “bom trabalho” a quem talvez jamais veja na vida?

Leonida é porta-voz de outras boas-novas.

Além do inusitado e muito bem-vindo bilhete, Leonilda é portadora de excelentes notícias.

Ela conta que, atualmente, é muito raro deparar com cacos de vidro misturados aos demais resíduos domésticos. A gari nos diz que a população está embalando os cacos direitinho, sinal de preocupação com quem vai apanhar nosso lixo, caso de Leonida & colegas.

Mais, Leonida constatou que muita gente escreve “VIDRO” nos embrulhos que guardam cacos. O recado é cristalino: o cidadão não deseja ferir quem quer que seja com seus restos.

O bilhete-buquê recebido por Leonida certamente não é a carta de alforria contra nossas más práticas. Mas é um sinal importante, é o lembrete grudado a ímã na geladeira: estamos vivos, estamos avançando.

21/04/2012 | N° 11353

COTIDIANO | GILBERTO BLUME




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